segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Neymar: O craque em forma de guri

Estrela do Santos abre sua casa e sua vida
Por Luciana Bugni
Gustavo Scatena/Imagem Paulista
Neymar abre sua casa e sua vida
Neymar abre sua casa e sua vida
O apartamento do jogador Neymar, em Santos, litoral paulista, está em silêncio. De repente, uma música sertaneja invade a sala à medida em que se ouve também os chinelos do jogador descendo as escadas. Ele está com um radio grande na mão. ''Vai demorar?'', pergunta assim que entra na varanda. ''Posso comer rapidinho?''
Após 15 minutos, está de volta, já sem o aparelho de som. Neymar fala baixo, com uma timidez digna de seus 18 anos. Parece calmo e muito distante dos arroubos nervosos que o acometeram recentemente e viraram até motivo de piada na internet.
A rebeldia não dá as caras enquanto ele conta que acorda tarde quando não tem treino pela manhã, mas normalmente começa a trabalhar logo cedo. ''É difícil ter um dia de folga, porque ainda há os eventos dos patrocinadores'', conta. Se ele reclama da rotina cansativa? Nem um pouco.
''Não tem nada ruim na minha vida, só coisas boas. Eu dou entrevistas, apareço na televisão... não é legal?'', pergunta com cara de moleque - uma molecagem leve perto da discussão que teve com o técnico santista Dorival Júnior, que culminou na demissão do treinador na quarta (22).
''Eu só jogo minha bola''
Dorival Jr. saiu, mas a molecagem no campo do Menino da Vila rendeu uma bronca do pai, Neymar, 45, que também controla o dinheiro que o filho ganha. ''Eu só jogo minha bola e deixo o resto com ele. Quando quero comprar algo, conversamos e a gente decide junto'', afirma o jogador. ''Estamos sempre juntos. É aquele laço que existe na família. Eu não consigo viver sem eles e eles não conseguem viver sem mim. Almoçamos juntos, assistimos jogos juntos... Tudo.'' Além dos dois, vivem no apartamento a mãe, Nadine, 45, a irmã, Rafaela, 14, e o irmão adotivo, Jô, 18.
''É o preço que eu pago''
A vida deles deu um salto gigante desde o início deste ano. ''Aqui em Santos, não consigo sair. Acaba virando um tumulto. Na última vez que fui ao cinema, eu e o André (ex-atacante do Santos, vendido para o Dínamo de Kiev, da Ucrânia), tínhamos de atravessar toda a praça de alimentação. Fomos correndo e a multidão se formando atrás de nós. No fim, deu tudo certo'', diz apertando os olhos verdes, rindo, mas fica sério quando pensa que sente falta da vida de anônimo: ''Acho que é isso: ir ao cinema sossegado, jogar bola na praia e comer no McDonald’s. Não posso mais comer no McDonald’s! Eu achava que quem era famoso podia fazer tudo o que quisesse, mas é bem o contrário. Não pode fazer nada. É minha vida, é o preço que eu pago para ter retorno lá na frente'', fala com ar de maturidade.
''Fora de campo preciso tomar cuidado com tudo. Somos chamados de Meninos da Vila e tem muita gente de olho, que se espelha em nós. Precisamos dar o exemplo.'' Como se viu recentemente, não é sempre que o garoto consegue manter-se no eixo.
''Acho que é meu mel''
As garotas, grande aspiração de um rapaz de 18 anos, são tratadas com cautela. Neymar é o mais assediado pelas adolescentes que se aglomeram aos prantos na porta do centro de treinamento do Santos. ''Acho que é meu mel que deixa as meninas assim (risos). Estou brincando, não sei o que é, não''.
Logo fica sério outra vez. ''Hoje, quando eu conheço uma menina, sempre tenho um pé atrás. Mas aí vamos nos conhecendo para ver no que dá. Já namorei três vezes. Só que nesse momento estou sossegado, solteiro. Pode colocar aí que estou carente. Mas não posso dar bola para qualquer uma, não, tenho que me fazer de difícil'', diz e abre novo sorriso.
''Não ligo para cobrança''
O talento tão exaltado pelos brasileiros neste ano de Copa do Mundo parece não mexer muito com o menino. ''Eu jogo meu futebol. Se dizem que é bonito, para mim tanto faz'', dá de ombros. Mas é claro que nem só de elogios tem sido a carreira do atacante. ''Não ligo para a cobrança. Fico bravo quando eu erro, claro. Esses tempos em que perdi muitos pênaltis, fiquei boladão. Mas não posso parar de jogar por isso. Não posso me abater. Sei me cuidar e sei levar essas cobranças numa boa'', garante com voz calma de um menino que está tentando crescer rápido demais.
Um ídolo e um irmão
Muitos amigos visitam Neymar para as disputas de videogame na varanda, mas é de Robinho, 26, que o jogador fala com mais carinho. ''Nunca pensei que iria estrear como profissional ao lado dele. Mantemos o contato mesmo com ele morando na Europa'', diz com orgulho do amigo-ídolo ao empunhar uma foto de quando tinha 12 anos e jogava pela Portuguesa Santista ao lado do atacante, já profissional.
Neymar também faz questão de dizer que Paulo Henrique Ganso, 20, seu colega de gramado, é um irmão. ''Todo mundo ficou triste com a fatalidade que aconteceu com o Ganso (o jogador se contundiu e deve ficar fora dos gramados por seis meses), eu principalmente, que sinto falta dele dentro de campo e fora. A gente é muito grudado, faz tudo junto, mas vai ficar tudo bem.''

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