Quando começa a responder sobre sua carreira, é um menino de 18 anos que tenta a todo custo esquivar-se das polêmicas que já o marcaram. É defensivo. Mas é revelador também. A partir de segunda, quando o Brasil estreia no hexagonal final do Sul-Americano, este menino que muito cedo vê o mundo a seus pés, tem uma responsabilidade enorme. Atingiu tal status que, se a seleção não se classificar para os Jogos Londres, o time de Neymar terá fracassado.
Cabelo moicano já é marca
Normal que meninos de 18 anos não lidem com qualquer tema com a facilidade com que Neymar dribla. Ele chega com seu cabelo moicano, brincos com brilhantes nas duas orelhas, um vistoso cordão e um relógio Dolce & Gabbana. Por vezes, na concentração, anda com a gola da camisa polo levantada. Mas jura:
— Não me preocupo com visual. Coloco a camisa e, se a gola fica levantada, nem mexo. Não procuro ser diferente dos outros. O moicano é que virou marca, será difícil derrubar.
Defensivo, mesmo, Neymar se mostra ao falar dos questionamentos sobre seu comportamento. Já houve quem o acusasse de humilhar adversários em campo, dizendo-se um menino rico. Com Dorival Júnior, no Santos, ao ser impedido de bater um pênalti, reagiu e depois se recusou a passar a bola a qualquer companheiro. Ouviu que o futebol brasileiro estava “criando um monstro”, expressão do técnico Renê Simões. Perguntado quantas vezes já foi chamado de marrento, admite:
— Muitas — afirma, para em seguida negar que tenha dado motivo. — Falam isso porque não me conhecem.
Então, quem é Neymar?
— Sou um cara feliz, extrovertido, brincalhão, amigo de todo mundo.
Curioso é que Neymar admite que o episódio com Dorival o fez mudar “um pouco o jeito e pensar melhor em tudo”. Mas rechaça que tenha extrapolado por marra.
— Foi um momento difícil. Errei feio. Mas não teve nada a ver com ter conquistado muita coisa cedo, marra, nada disso. Queria ajudar o time, fazer aquele gol de pênalti. Isso de humilhar adversário, quem me conhece sabe que eu não faço. Quanto ao Renê, se ele falou como crítica, para ajudar, eu aceito. Ninguém gosta de ser chamado de monstro. Não sou isso, mas a vida segue. Renê, Dorival, tudo isso deixei no passado, nem gosto de falar.
Ele afirma até que nunca se considerou um jogador diferente, pelo talento que tem.
— Sou igual a todos. Tenho dois braços, duas pernas...
O futebol entrou muito cedo na vida de Neymar e provocou a transformação com que todo jovem bom de bola e de origem humilde sonha. O craque conta que já deu casa própria para os pais, ajudou avós. Deixou para trás uma proposta do Chelsea, tem multa rescisória superior a R$ 100 milhões no Santos e salário altíssimo.
Poderoso aos 18 anos, Neymar não consegue olhar para o futuro e imaginar o que virá, por exemplo, em dez anos.
— Vou por objetivos. Cada dia de uma vez. Se não, daqui a cinco anos você percebe que não foi tudo aquilo que pensou. Tento fazer cada dia, cada jogo, valer a pena.
E valer a pena, para ele, tem tudo a ver com a alegria do drible, do toque de efeito:
— Cada um tem seu estilo. O meu é o drible, o gol. Não acredito que um técnico vá pedir para eu não fazer isso. Se pedir, vou acatar. Mas todos me dizem para tentar e passar na hora certa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário